Clitóris e o Orgasmo Feminino

O Orgasmo feminino

A vida sexual é o centro da manutenção das relações amorosas para a maioria das pessoas. Sigmund Freud (fundador e pai da psicanálise) dizia que tudo gira em torno do sexo e que para tudo ficar bem só depende de se resolver os problemas sexuais, que são os principais problemas dos seres humanos. Wilhelm Reich (psicanalista austríaco, discípulo de Sigmund Freud) dizia que para isso é necessário ter um bom orgasmo e só isso. Para o psicanalista, além de proporcionar prazer, a função do orgasmo é produzir uma carga energética poderosa capaz de dissolver a “couraça neuromuscular do caráter” de indivíduos bloqueados pelas exigências de uma sociedade hierarquizada em que a sexualidade é reprimida. “Relaxa e goza”, diz o dito popular para enfrentar situações de estresse e tensão.

Parece que não, mas os estudos sobre a sexualidade feminina são muito recentes. Em um deles, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e publicado na Revista Estudos Feministas em 2010, o estudo da sexualidade humana ou sexologia é definida como “um campo teórico e prático com status de ciência entre estudiosos de diversas áreas, sem especificamente formar uma disciplina tradicionalmente acadêmica, transitando em proximidade com Medicina, Psicologia, Antropologia, Biologia, Sociologia, Direito e outros saberes. Mas, mesmo com o desenvolvimento da sexologia, imaginem que até hoje não sabem porque as mulheres chegam ao orgasmo, do ponto de vista evolutivo.  Atualmente há várias hipóteses que tentam explicar.

A explicação evolucionária do orgasmo feminino tem sido difícil de se encontrar. O orgasmo nas mulheres, contribui para o sucesso reprodutivo da nossa espécie e estimula a manutenção do relacionamento sexual e do casal,  para que cuidem melhor da prole. Foram propostos dois tipos de explicações: uma insistindo em papéis adaptativos existentes na reprodução, outra explicando o orgasmo feminino como um subproduto do orgasmo masculino, que é crucial para a transferência do esperma. É importante ressaltar que estas explicações tendem a concentrar-se em evidências da biologia humana e assim, abordam a modificação de uma característica em vez de sua origem evolutiva.

O orgasmo feminino humano está associado a um aumento endócrino semelhante aos picos hormonais observados durante a cópula em espécies com ovulação induzida. Pesquisadores da Universidade de Yale e da Universidade de Cincinnati sugerem que o homólogo do orgasmo feminino humano é o reflexo que, ancestralmente, induzia a ovulação. Este reflexo tornou-se supérfluo com a evolução da ovulação espontânea, potencialmente liberando o orgasmo feminino para outros papéis. Isto é apoiado por evidências filogenéticas mostrando que a ovulação induzida é ancestral, enquanto a ovulação espontânea é derivada dos eutérios (animais com placenta).

Além disso, a anatomia comparativa de trato reprodutor feminino mostra que a evolução da ovulação espontânea está correlacionada com o aumento da distância do clitóris da vagina. Em resumo, os pesquisadores sugerem que o orgasmo feminino seja uma característica adaptativa a partir de um papel diferente, ou seja, para induzir a ovulação. Com a evolução da ovulação espontânea, o orgasmo foi liberado para a realização de papéis secundários, o que pode explicar a sua manutenção, mas não a sua origem.

Entenda seu corpo

A vulva feminina é uma estrutura complexa que inclui vários componentes. Cada estrutura tem sido descrita separadamente, mas a interação entre elas e significado fisiológico permanecem controversos. As estruturas estendem inferiormente a partir do arco púbico e incluem o monte pubiano, grandes lábios, pequenos lábios, vestíbulo e clitóris. O clitóris é a parte mais sensível do corpo de uma mulher e pode enviar vibrações acima e abaixo na sua espinha quando estimulado. Clitóris deriva seu nome da antiga palavra grega Kleitoris, que significa “pequena colina”. Embora o “botão mágico” possa transportar uma mulher e seu parceiro às nuvens, muitos homens e mulheres não estão familiarizados com ele. De acordo com a psicóloga e especialista em sexualidade humana, Gabriela Daltro, em seu livro “Prazer na Intimidade”, muitas das dificuldades sexuais são causadas pela falta de informação sobre o funcionamento do próprio corpo. Uma em cada três brasileiras, por exemplo, afirma não chegar (ou raramente chegar) ao orgasmo. Portanto, é preciso sim estimular o clitóris antes e durante o sexo.

Na França, país em que a educação sexual é disciplina obrigatória desde a primeira infância, o governo incumbiu a pesquisadora de sociomedicina Odile Fillod de desenvolver uma imagem em 3D do clitóris, imprimir a escultura e distribuir nas escolas.

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                                                                                                                                                                                                              Imagem em 3D do clitóris

Enquanto o pênis é o órgão sexual e de prazer dos homens, é o clitóris o órgão sexual e de prazer das mulheres. O clitóris não tem a forma de um pênis, mas é semelhante à anatomia masculina porque tem uma glande, um prepúcio, também conhecido como prepúcio ou capuz do clitóris, que o protege de estímulos externos e ainda um eixo. Além disso, ele incha quando está excitado. É um órgão extremamente sensível, com muitas terminações nervosas. O clitóris tem cerca de 8.000 terminações nervosas, que é mais do que qualquer outra parte do corpo feminino, enquanto o pênis tem apenas 4.000 terminações nervosas.

O clitóris é mais do que apenas um botão. O clitóris é o órgão mais sensível da mulher, não a vagina. Porque se a mulher tivesse extrema sensibilidade na vagina, seria impossível dar à luz. Portanto, o clitóris está aí para ser estimulado, com ou sem a penetração, com a única exclusiva função de dar orgasmo à mulher. O clitóris mede entre 9 e 11 centímetros, embora apenas parte do corpo e a glande sejam visíveis. O “bulbo” e a “crura” se estendem por dentro. Ele fica ereto da mesma forma que o pênis quando excitado, cheio de sangue e pulsante. Debaixo da forma que podemos observar, o clitóris tem a forma de uma fúrcula com duas pernas que se estendem por 3 polegadas no interior da vagina, ligando-se ao ponto G. O que se vê na parte externa da vulva é apenas a pontinha do clitóris, a glande. A sua estrutura total é bem grande e envolve a parte anterior da vulva, o canal vaginal e faz parede com diversos órgãos importantes como útero e bexiga. Esta zona de prazer tem um grande alcance e poder durante o orgasmo feminino.

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Masters e Johnson foram os primeiros a determinar que a estrutura do clitóris rodeia e estende-se ao longo da vagina, assim determinaram que todos os orgasmos são de origem clitoriano. Mais recentemente, a urologista australiana Dra. Helen O’Connell, utilizando a tecnologia de ressonância magnética, notou que existe uma relação direta entre as crus clitoris (crura ou pernas ou raízes do clitóris) e o tecido erétil do bulbo clitoriano e corpo cavernoso, uretra e vagina. Ela afirma que esta relação de interligação é a explicação fisiológica para o ponto G e a experiência do orgasmo vaginal, tendo em vista a estimulação das partes internas do clitóris durante a penetração da vagina.

Cerca de 20% das mulheres conseguem atingir o orgasmo por estimulação vaginal, com a penetração. Os outro 80% das mulheres precisam estimular o clitóris ao mesmo tempo da penetração ou mesmo conseguem atingir o orgasmo apenas tocando o clitóris. O orgasmo clitoriano é mais fácil de ser atingido, porque o clitóris é um ponto específico, externo, de fácil acesso, com gatilho para a sensação de prazer. Isto difere do orgasmo vaginal, que muitas mulheres têm dificuldade de atingir, por estar condicionado a um ponto desconhecido e de difícil acesso (ponto G). Para o orgasmo vaginal, é preciso estímulos contínuos em pontos diferentes dentro da vagina. O clitoriano acontece com manipulação, contato contínuo ou vibratório que estimulam as fibras nervosas do clitóris e disparam um estímulo. O clitóris, por ser um órgão externo e de fácil fricção, desempenha um papel muito significativo para se atingir o orgasmo. Facilita também porque ele também é fortemente inervado, o que o torna mais sensível.

Os homens se excitam mais rápido, pois, para provocar uma ereção são necessários apenas 40 mL de sangue para encher os corpos cavernosos e deixar o pênis ereto e sensível. Para que o clitóris e os órgãos internos de uma mulher atinjam o mesmo grau de excitação é preciso cerca de 200 mL de sangue. Portanto, a mulher precisa de mais tempo para atingir o mesmo ponto de excitação do homem. O ciclo da resposta sexual feminina é muito complexo, exigindo estimulação mental e emocional para completar a estimulação do órgão. Por isso as preliminares são tão importantes, estimulando as sensações do corpo e também a mente, com fantasia e pensamentos eróticos.

Semelhante ao debate interminável para saber se o tamanho do pênis importa, o tamanho ou a distância do clitóris de uma mulher de sua vagina pode afetar sua capacidade de atingir o orgasmo. Um recente estudo publicado no Journal of Sexual Medicine descobriu que de 30 mulheres, 10 delas disseram que tinham um orgasmo difícil. Essas 10 mulheres tenderam a ter clitóris que eram mais distantes de sua abertura vaginal. o clitóris pode alcançar seu potencial máximo de prazer quando ele é estimulado de forma adequada. Se ele continuar a ser estimulado por muito tempo, o prazer pode rapidamente se transformar em dor e desconforto. O clitóris pode tornar-se muito sensível, sendo assim é melhor reduzir a estimulação e se concentrar nas áreas circundantes.

Não ir direto ao ponto

Uma das piores coisas que se pode fazer quando for excitar uma mulher é ir muito rápido ao genital. O ideal é fazer tudo mais devagar, estimular o corpo inteiro da parceira. Não se preocupar com técnicas inicialmente. Entender que para a mulher, sentir-se desejada é um dos maiores afrodisíacos. Geralmente os homens quando deitam na cama já colocam a mão na bunda, no seio e na vagina da mulher. Isto é um grave erro! Não foque somente nos genitais. Existem mais de 20 áreas no corpo da mulher que podem levá-la ao orgasmo sem mesmo você tocar os genitais. A região lombar (acima das nádegas) é uma destas 20 áreas e é altamente excitante para a maioria das mulheres. Toque os genitais somente depois que a mulher já estiver estimulada. Isso vai tornar o sexo muito mais intenso!3

A ocitocina

Se fosse possível fazer uma droga do amor, a ocitocina seria sem dúvida o principal ingrediente. Em níveis normais a ocitocina estimula na mulher, um desejo leve ao ser beijada e abraçada por seu amante. Mas ao ser tocada há um incremento nos níveis de ocitocina. Isso provoca uma cascata de reações dentro do corpo, incluindo a liberação de endorfinas e testosterona, o que resulta na excitação biológica e psicológica. Os nervos em zonas erógenas, tais como os lóbulos das orelhas, pescoço e genitais, incluindo o clitóris, tornam-se sensibilizados pelos efeitos da ocitocina. Ela promove uma relação de proximidade, intimidade e desejo que aumenta a receptividade sexual. E o desejo de ser tocado provoca ainda mais a liberação de ocitocina e assim desejo e excitação são aumentados ainda mais.

O clitóris é a parte mais sensível da mulher. Por este motivo ele não deve ser tocado com força, nem com a mão seca. O melhor é que sempre esteja lubrificado, para facilitar o deslizamento no toque. Essa lubrificação pode ser a própria lubrificação feminina gerada pelo prazer que a mulher já está sentindo ao ser estimulada em outras partes do corpo, ou pode ser um gel lubrificante comprado em qualquer farmácia, sex shop, ou loja de produtos voltados ao mundo do sexo. O que não é indicado são estímulos secos. O clitóris pede movimentos leves e úmidos, ou seja, a sensação de prazer na mulher virá através de movimentos não agressivos. Este prazer é percebido pelos receptores sensíveis ao toque, ao movimento e temperatura que existem no corpo inteiro, mas que são mais concentrados no clitóris.

Posicionamento é tudo na estimulação clitoriana durante a penetração

Um posicionamento indicado para a estimulação do clitóris pode ser a técnica de alinhamento coital (sigla em inglês, CAT). Se um homem está por cima, ele pode deslocar até cerca de 2 polegadas de modo que a base do pênis fique diretamente alinhada com o clitóris da mulher, de acordo com a Women´s Health.  Isto deve ser seguido por um movimento de balanceado, enquanto a mulher prende as pernas firmemente em torno das coxas do homem.

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Outra posição que estimula o clitóris durante a penetração  é quando a mulher se posiciona acima do corpo masculino, como se cavalgasse sobre ele. Esta posição, se a mulher estiver sendo penetrada e inclinar o seu corpo para frente em um ângulo de 45º, em geral facilita o toque no clitóris. Mas mesmo assim, nesta posição, a mulher ainda estará tocando o clitóris dela de forma limitada, porque o toque do clitóris será na base da sua barriga bem próximo do pênis, em uma área que você tem um osso ali (identificado como baixo ventre) onde normalmente iniciam os seus pelos pubianos e esta parte nem sempre está úmida e nem é tão quente quando a boca por exemplo.

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Uma revisão abrangente do clitóris e seu papel na função sexual feminina

O clitóris é muitas vezes considerado a versão feminina do pênis e menos estudado em comparação com o seu homólogo masculino. No entanto, tem a mesma importância no funcionamento sexual. Embora só recentemente lhe tenha sido atribuído a apreciação que merece, o clitóris deve ser examinado como uma entidade separada e única.

Com o objetivo de rever a anatomia do clitóris, seu papel no funcionamento sexual, as controvérsias do erotismo vaginal e da próstata feminina, bem como abordar impactos potenciais da cirurgia pélvica em sua função, duas médicas pesquisadoras do TriHealth Good Samaritan Hospital em Cincinnati, Ohio examinaram evidências disponíveis de 1950 até 2015 relativas à anatomia do clitóris, o papel do clitóris no funcionamento sexual, erotismo vaginal, próstata feminina, mutilação/corte genital do sexo feminino e as implicações cirúrgicas para o clitóris .

Os principais resultados incluíram uma revisão histórica da anatomia do clitóris e seu papel no funcionamento sexual, as controvérsias sobre fontes vaginais da função sexual, bem como o impacto de ambos os procedimentos reconstrutivos e não médicos no clitóris. A intrincada neurovasculatura e a forma multiplanar do clitóris contribuem para o seu papel no prazer sexual feminino. Mas o debate sobre o papel exclusivo do clitóris no funcionamento orgásmico ainda permanece. A função sexual normal pode permanecer intacta, no entanto, mesmo após procedimentos cirúrgicos envolvendo o clitóris e as estruturas circundantes.

Com base nos resultados levantados pela pesquisa, as cientistas concluíram que o clitóris é possivelmente o órgão mais crítico para a saúde sexual feminina. Sua importância é destacada pelo fato de que a prática da mutilação genital feminina (também conhecida por circuncisão feminina, é a remoção ritualista de parte ou de todos os órgãos sexuais externos femininos) é frequentemente usada para atenuar a resposta sexual feminina. Embora seu significado possa ter sido ofuscado em relatórios que apoiem o erotismo vaginal, o clitóris permanece sendo fundamental para o funcionamento orgásmico da maioria das mulheres.

REFERÊNCIAS

The Evolutionary Origin of Female Orgasm.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27478160

Anatomy of the Vulva and the Female Sexual Response.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26880506

Anatomy of the Clitoris.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Anatomy+of+the+Clitoris%2C+J+Urol.+2005+Oct%3 B174(4+Pt+1)%3A1189-95

Time for Rethink on the Clitoris, BBC News (Junho 2006).

Prazer-na-Intimidade-para-Mulheres.

https://amocomosou.com/wp-content/uploads/2016/10/Prazer-na-Intimidade-para-Mulheres-ebook.pdf

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Thaisa Albanesi, Roberto Franco do Amaral, Bruno Pitanga, Dayse Caldeira. Editora Pandorga; 1ª Edição, 2015.

A Comprehensive Review of the Clitoris and Its Role in Female Sexual Function

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2050052115301359?via%3Dihub

Dr. Roberto Franco do Amaral – Especialista em Medicina Laboratorial CRM 111310

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Dr. Roberto Franco do Amaral – Especialista em Medicina Laboratorial CRM 111310

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