Testosterona no tratamento de obesidade e suas consequências.

A relação de testosterona  baixa com obesidade, diabetes, resistência a insulina e síndrome metabólica


A epidemia de obesidade e diabetes é uma grande crise global.

Vários estudos epidemiológicos revelam a escalada paralela da obesidade e diabetes.

O termo “diabesidade” expressa a relação estreita entre si, em que ambas alterações metabólicas são caracterizadas por distúrbios da ação da insulina  favorecendo o estoque de gordura. Quanto mais gordura, mais aromatase, enzima que converte testosterona em estradiol ( hormônio feminino)

A fisiopatologia ligando obesidade e diabetes tipo 2 ( nível de glicose elevado) é principalmente atribuída a dois fatores:  ganho de gordura abdominal e a resistência à insulina.

A obesidade induz a resistência à insulina, atuando sobre uma diversidade de moléculas que predispõem o indivíduo a um estado inflamatório crônico e a complicações metabólicas.

Diabesidade é o novo termo que caracteriza a ocorrência do diabetes em indivíduos obesos, porque já foi estabelecida uma relação direta entre o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) e o desenvolvimento do diabetes.

A patogênese deste processo envolve um aumento da resistência à ação da insulina em tecidos periféricos, que pode ser definida como um estado em que concentrações muito mais elevadas de insulina são necessárias para produzir uma resposta biológica normal.


Deficiência de Testosterona e Diabesidade

Vários estudos têm sugerido que a deficiência de testosterona pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade, resistência à insulina e diabetes mellitus tipo II e que a terapia de reposição da testosterona pode melhorar esse quadro.

                                           testosterona obesidade

Um estudo de revisão conduzido por Cheung e colaboradores  identificou múltiplos mecanismos que corroboram os efeitos dos baixos níveis de testosterona sobre a resistência à insulina, obesidade, disfunção vascular e inflamação, e que a terapia com testosterona transdérmica representa uma alternativa para o tratamento de homens com síndrome metabólica.

Outro estudo conduzido por Haider em 2014 investigou os efeitos em longo prazo da terapia com testosterona em homens com diabesidade.

Subsequente à terapia com testosterona, a circunferência da cintura diminuiu em 11,56 cm e o peso em 17,49 kg.

A glicemia de jejum e a hemoglobina glicada também diminuíram. Dessa forma, a terapia com testosterona resultou em melhorias significativas e sustentadas no peso e fatores de risco cardiometabólicos em homens com diabesidade e deficiência de testosterona.


Estudo comprova que testosterona transdérmica reduz a resistência à insulina e melhora o perfil lipídico e a função sexual

O objetivo do estudo publicado no International Journal of Endocrinology por Jones e colaboradores, foi avaliar os efeitos da terapia de reposição de testosterona (TRT) na resistência à insulina, fatores de risco cardiovasculares em homens com hipogonadismo, diabetes tipo II e/ou síndrome metabólica.

Para isso, 220 homens foram selecionados para participar deste estudo multicêntrico, prospectivo, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo e receber a terapia, durante 12 meses. Abaixo, veja os resultados e a conclusão do estudo:

1-   A TRT reduziu o HOMA-IR (o cálculo do índice HOMA-IR ajuda a determinar o grau de resistência à insulina) em 15,2% após 6 meses e 16,4% após 12 meses na população total;

2- Em pacientes com diabetes tipo II o controle glicêmico foi significativamente melhor no grupo TRT em comparação com o placebo;

3-  Melhorias nos níveis de colesterol total e LDL, lipoproteína A, composição corporal, libido e função sexual foram observadas após a TRT;

4-  Não houve diferenças significativas entre os grupos, na frequência de efeitos adversos, sendo que a maioria deles foi de ligeira a moderada.

Após análise dos resultados, os pesquisadores concluíram que, ao longo de um período de 6 meses, a terapia de reposição de testosterona foi associada com efeitos benéficos na resistência à insulina, colesterol total e LDL-c, além de melhorar a função sexual em homens com hipogonadismo, diabetes tipo II e/ou síndrome metabólica.


Tratamento da dor em pacientes com fibromialgia, relacionada à síndrome metabólica, com gel de testosterona: farmacocinética e resposta clínica.

Pacientes com fibromialgia comumente têm um índice de massa corporal elevado e estão fisicamente inativos, 2 principais fatores de risco para a síndrome metabólica.

Para testar a hipótese de que a deficiência de testosterona desempenha um papel importante na dor crônica, um estudo piloto de Fase I/II foi realizado com 12 pacientes com fibromialgia para verificar se uma dose diária com gel de testosterona transdérmica por de 28 dias poderia:

1) aumentar de forma significativa e segura a concentração sérica média de testosterona, de níveis basais baixos para níveis médio/alto-normal e

2) tratar eficazmente os sintomas de dor e fadiga da fibromialgia.

Os dados farmacocinéticos confirmaram que as concentrações plasmáticas da testosterona livre aumentaram significativamente acima dos níveis basais, por meio da avaliação da concentração máxima de hormônio.

A avaliação dos sintomas típicos da fibromialgia pelo questionário do paciente e no exame do ponto sensível demonstraram mudanças significativas na diminuição da dor muscular, rigidez e fadiga e no aumento da libido durante o tratamento do estudo.

Estes resultados são consistentes com a capacidade hipotética da testosterona para aliviar os sintomas de fibromialgia. Os sintomas que não estavam intimamente relacionados com a fibromialgia não foram melhorados.


A Testosterona é um fator chave relacionado ao gênero na Síndrome Metabólica

A síndrome metabólica (MetS) está altamente correlacionada com doenças cardiovasculares. Embora o excesso de gordura corporal seja um fator determinante para o desenvolvimento da MetS, um nível reduzido de testosterona desempenha um papel fundamental na sua regulação. Um baixo nível de testosterona está altamente relacionado com a resistência à insulina, obesidade visceral e MetS.

Pesquisadores da Universidade de Milano-Bicoccano realizaram uma revisão bibliográfica de testes clínicos no Pubmed com as palavras-chave: testosterona e resistência à insulina e testosterona e síndrome metabólica.

Foram encontrados 19 estudos sobre a correlação entre o nível de testosterona com resistência à insulina e 18 sobre o efeito da testosterona terapia na MetS.

Uma alta correlação entre baixa testosterona e resistência à insulina foi encontrada nos homens, mas não nas mulheres. Administração de testosterona em homens hipogonadais melhoraram a MetS e reduziram o risco de mortalidade.

Andrógeno e os receptores de estrogênio são expressos em adipócitos, tecido muscular e hepático e a sua ativação é necessária para melhorar o controle metabólico.

Normalização dos níveis de testosterona deve ser o tratamento primário em homens, juntamente com a restrição calórica e exercício físico.

Essas descobertas vêm principalmente de dados correlativos e continua a ser uma necessidade a realização de novos ensaios randomizados para fortalecer essa evidência. Esta revisão considerou os efeitos da testosterona na regulação e desenvolvimento de MetS em homens e mulheres.


Deficiência de testosterona e obesidade associadas a mortalidade por todas as causas

A testosterona, por sua vez, está relacionada a uma série de efeitos fisiológicos, como função sexual, desempenho físico, força muscular, desenvolvimento da massa corporal magra, e função cognitiva.

Baixos níveis de testosterona estão associados a doenças cardiovasculares, câncer e a mortalidade de todos os tipos.

Estudos demonstraram, que na última década, 38,7% dos homens com mais de 45 anos demonstram níveis baixos de testosterona (deficiência de testosterona) testosterona total ≤350 ng /dL.

Existe uma relação inversa conhecida entre os níveis elevados de testosterona e a gordura corporal (medida pelo índice de massa corporal ≥ 30 kg / m2, circunferência da cintura ≥102 cm, percentual de gordura corporal ≥25% ou aumento do tecido adiposo), que demonstrou ser consistente em estudos transversais, estudos prospectivos de coorte e análises sistemáticas, e meta-análises.

Esta relação é bidirecional, ou seja, níveis baixos de testosterona aumentam o risco da elevação da gordura corporal, e o aumento da gordura corporal pode reduzir os dos níveis de testosterona.

Portanto, foi investigado se a co-ocorrência de deficiência de testosterona e obesidade geral (IMC ≥ 30 kg / m2) e obesidade abdominal (circunferência da cintura ≥102 cm) está associada a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas em uma amostra representativa de homens dos Estados Unidos.

O estudo, publicado no Clinical Endocrinology, foi realizado em 948 homens com idade maior que 20 anos e avaliou se a presença concomitante de deficiência de testosterona e obesidade, definida como IMC (índice de massa corporal) ≥ 30 kg / m2 e a obesidade abdominal (circunferência da cintura ≥102 cm) estariam associadas a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas.

A análise multivariada mostrou um risco aumentado de morte de 2,6 vezes entre homens com deficiência de testosterona em comparação com homens sem esta deficiência (hazard ratio, HR, de = 2,60; intervalo de confiança, IC, de 95%, 1,20-5,80).

Cabe ressaltar que os homens com deficiência de testosterona e obesidade abdominal apresentaram risco 3,3 maior de morte (HR = 3,30; IC de 95%, 1,21-8,71) em relação aos homens sem deficiência de testosterona e sem obesidade abdominal.

 

 


REFERÊNCIAS

Obesity and diabetes: An update.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27353549

Obesity and diabetes. 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Riob%C3%B3+Serv%C3%A1n+P.+Obesity+and+diabetes.+Nutr+ Hosp.+2013+Sep%3B28+Suppl+5%3A138-43.+doi%3A+10.3305%2Fnh.2013.28.sup5.6929.

Effects of long-term testosterone therapy on patients with “diabesity”: results of observational studies of pooled analyses in obese hypogonadal men with type 2 diabetes.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Effects+of+long-term+testosterone+therapy+on+patients+with +%22diabesity%22%3A+results+of+observational+studies+of+pooled+analyses+in+obese+hypogonadal+men+with+type+2+diabetes.

Testosterone level in men with type 2 diabetes mellitus and related metabolic effects: A review of current evidence.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Cheung+KK%2C+Luk+AO%2C+So+WY%2C+Ma+RC%2C +Kong+AP%2C+Chow+FC%2C+Chan+JC.+Testosterone+level+in+men+with+type+2+diabetes+mellitus+and+related+metabolic+effects%3A+A+review+of+current+evidence.

Testosterone replacement in hypogonadal men with type 2 diabetes and/or metabolic syndrome (the TIMES2 study).

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21386088

Pioglitazone Randomised Italian Study on Metabolic Syndrome (PRISMA): effect of pioglitazone with metformin on HDL-C levels in type 2 diabetic patients. 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Pioglitazone+Randomised+Italian+Study+on+Metabolic+ Syndrome+(PRISMA)%3A+effect+of+pioglitazone+with+metformin+on+HDL-C+levels+in+type+2+ diabetic+patients.

The effects of chitosan oligosaccharide (GO2KA1) supplementation on glucose control in subjects with prediabetes. 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=The+effects+of+chitosan+oligosaccharide+(GO2KA1)+ supplementation+on+glucose+control+in+subjects+with+prediabetes

Efficacy and safety of chitosan HEP-40 in the management of hypercholesterolemia: a randomized, multicenter, placebo-controlled trial.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Efficacy+and+safety+of+chitosan+HEP-40+in+the +management+of+hypercholesterolemia%3A+a+randomized%2C+multicenter%2C+placebo-controlled+trial.

Treatment of pain in fibromyalgia patients with testosterone gel: Pharmacokinetics and clinical response.

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1567576915002453

Testosterone a key factor in gender related metabolic syndrome

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29356299

Double trouble: Co-occurrence of testosterone deficiency and body fatness associated with all-cause mortality in US men. D.S. Lopez,X. Qiu,S. Advani,K.K. Tsilidis,M. Khera,J. Kim,A. Morgentaler,R. Wang,S. Canfield. Clinical endocrinology Volume 88, Issue 1 January 2018 ,Pages 58–65; 10.1111/cen.13501

 

 

Dr. Roberto Franco do Amaral – Especialista em Medicina Laboratorial CRM 111310

4 respostas

  1. Achei muito bom o blog, principalmente por eu sofrer bastante com problemas hormonais.Entrei na menopausa aos 38 anos, tenho 48 e uso tibolona. Minha vida emocional mudou muito e física também. A reposição pouco ajuda,então é bom ler sobre esses assuntos. É de grande ajuda,com certeza.

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Dr. Roberto Franco do Amaral – Especialista em Medicina Laboratorial CRM 111310

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