Philip Ettinger et al. cunharam o termo síndrome do coração pós-feriado (do inglês, holiday heart syndrome), ou arritmia aguda por intoxicação etílica, como “alteração aguda do ritmo cardíaco e/ou distúrbio da condução associado ao consumo de grande quantidade de etanol na ausência de outros indícios clínicos de doença cardíaca”. As pessoas que apresentam este quadro em geral referem libação alcoólica exagerada durante um fim de semana ou feriado.
A recuperação da arritmia aguda por intoxicação etílica exige detecção precoce e abstinência de bebidas alcoólica
O distúrbio mais comum na arritmia aguda por intoxicação etílica é a fibrilação atrial (FA). Este quadro deve ser considerado como diagnóstico diferencial para os pacientes sem cardiopatia estrutural e com fibrilação atrial de início recente. Mesmo o consumo comedido de bebidas alcoólicas pode ser identificado como gatilho em alguns pacientes com fibrilação atrial paroxística.
O risco de fibrilação atrial persiste na fase da ressaca e/ou abstinência, o que corresponde a um aumento do tônus simpático.
O distúrbio da condução tipicamente reverte para ritmo sinusal normal em até 24 horas.
Embora a maioria (> 90%) dos casos de fibrilação atrial por intoxicação etílica tenha resolução espontânea, cerca de 20% a 30% recidiva em 12 meses.
O consumo moderado a pesado de bebidas alcoólicas também é um forte fator de risco de progressão da fibrilação atrial paroxística para fibrilação atrial persistente.
Ao considerar a arritmia aguda por intoxicação etílica, está implícita a fibrilação atrial. Com isso em mente, a palpitação é o sintoma mais comum nestes casos.
Os sinais e sintomas podem ser intermitentes ou persistentes, dependendo da ocorrência ou não de arritmia sustentada e da resposta ventricular à fibrilação atrial.
Outros sinais e sintomas comumente associados a arritmia aguda por intoxicação etílica são:
- pressão ou dor precordial
- síncope ( desmaio)
- dispneia (falta de ar)
O ecocardiograma é rotina no atendimento para a avaliação de aumento das câmaras cardíacas, anomalias do movimento das paredes do ventrículo esquerdo, hipertrofia, doença valvar e disfunção sistólica e diastólica.
Nos pacientes com risco de doença coronariana, pode ser necessário fazer outros exames de imagem cardíaca (como imagens de perfusão). A ausculta cardíaca dos pacientes com arritmia aguda por intoxicação etílica costuma ser normal, exceto pelo ritmo “irregularmente irregular”.
Os achados nos exames laboratoriais de rotina desses pacientes com frequência indicam libação alcoólica. O volume corpuscular médio aumenta em caso de consumo excessivo de bebidas alcoólicas. A razão entre as aminotransferases aspartato ( TGP MAIOR QUE TG0) e alanina pode ser de 2:1, respectivamente. Há indicação de investigação hepática.
Dada a natureza geralmente transitória da fibrilação atrial induzida pelo álcool etílico no coração estruturalmente normal, o controle da frequência e o tratamento sintomático da intoxicação etílica em geral são suficientes. Para o controle da frequência, pode ser necessário tratamento com um bloqueador do nodo atrioventricular (como um betabloqueador ou um bloqueador do canal de cálcio) se a frequência ventricular estiver rápida. A digoxina é uma opção de terceira linha; raramente o tratamento regular com este medicamento é indicado.
Se a duração da fibrilação atrial se aproximar de 24 a 48 horas a cardioversão (farmacológica ou elétrica) pode ser considerada quando as condições clínicas do paciente forem ideais e o período necessário de abstinência de bebidas alcoólicas estiver concluído
Embora a anticoagulação prolongada seja indicada para pacientes com fibrilação atrial paroxística, persistente ou permanente, além de fatores de risco de acidente vascular cerebral ou tromboembolia sistêmica, deve-se ter cautela no caso dos pacientes com intoxicação etílica aguda. A menos que existam caraterísticas de alto risco (como história de acidente vascular cerebral, válvula cardíaca mecânica ou outra indicação de anticoagulação), uma estratégia razoável pode ser permitir que o paciente se recupere do episódio agudo e, a seguir, iniciar a anticoagulação quando estiver clinicamente estável.
Saiba mais sobre o tratamento da arritmia aguda por intoxicação etílica.
Referência:
Lawrence Rosenthal, MD, PhD, FACC, FHRS Professor of Medicine, Director, Section of Cardiac Pacing and Electrophysiology, Director of EP Fellowship Program, Division of Cardiovascular Disease, University of Massachusetts Memorial Medical Center
Lawrence Rosenthal, MD, PhD, FACC, FHRS is a member of the following medical societies: American College of Cardiology, American Heart Association, Heart Rhythm Society, Massachusetts Medical Society